A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é uma condição multifatorial que compromete diferentes sistemas no corpo feminino, como o sistema hormonal, o metabolismo e a unção reprodutiva. Um aspecto com grande impacto na fertilidade, é a alteração do endométrio, que nas mulheres com SOP apresenta disfunções importantes. Dentre essas disfunções, destaca-se a forma atípica com que o endométrio reage aos hormônios sexuais e passa por mudanças moleculares que reduzem sua capacidade de receber o embrião.
As alterações no endométrio associadas à SOP podem ser divididas em dois tipos: primárias e secundárias. As alterações primárias, que podem ter origem ainda durante a gestação, envolvem a expressão inadequada de receptores hormonais e de seus co-reguladores, além de distúrbios em vias metabólicas e enzimáticas essenciais para o funcionamento endometrial. Isso se traduz em maior sensibilidade ao estrogênio e aos androgênios e uma resposta enfraquecida à progesterona, prejudicando o preparo do endométrio para a implantação embrionária.
Por outro lado, as alterações secundárias são consequências de fatores adquiridos ao longo da vida, como o excesso de peso, a resistência à insulina e um estado inflamatório crônico de baixa intensidade. Esses elementos criam um ambiente uterino desfavorável, marcado por estresse oxidativo, redução da vascularização e alterações no sistema imune local, dificultando ainda mais o processo de implantação. A ausência recorrente de ovulação contribui para desequilíbrios hormonais, como progesterona baixa e estrogênio persistentemente elevado,agravando o quadro de disfunção endometrial.
Para enfrentar esse desafio, diversas abordagens terapêuticas podem ser implementadas. Mudanças no estilo de vida, como a prática regular de exercícios físicos e uma dieta com restrição calórica, são estratégias essenciais para reduzir o peso corporal, a inflamação e a resistência à insulina. Entre os tratamentos farmacológicos, a metformina tem se mostrado eficaz por regular a ovulação,aumentar os níveis de glicodelina e IGF-1 na fase lútea e melhorar a circulação sanguínea uterina. Outro agente promissor é o inositol, que atua otimizando o metabolismo da glicose nas células do endométrio.
Além disso, ouso de medicamentos para induzir a ovulação deve ser bem planejado. O letrozol,por exemplo, tem se destacado por promover uma espessura endometrial mais favorável à implantação em comparação com o citrato de clomifeno, que pode exercer efeitos negativos no endométrio devido à sua ação antiestrogênica. Em mulheres com obesidade severa, a cirurgia bariátrica pode ser uma opção para melhorar não apenas o peso e o metabolismo, mas também restaurar a ovulação e aumentar as chances de gravidez. Dessa forma, o tratamento da disfunção endometrial na SOP exige uma abordagem personalizada e multidisciplinar, levando em consideração as variações clínicas de cada paciente e os múltiplos fatores envolvidos.






